22/05/2013

O admirável mundo económico português

O governo socialista de José Sócrates copiou inesperadamente a solução “de salvamento” americana, apoiando com um desfalque na economia nacional um banco privado, falido, que nem ao nível nacional seria “too big to fail”. Segundo o Financial Stability Board, organização que classifica os bancos segundo a sua credibilidade, não há um único banco português que seja relevante para ser salvo. Tratou-se de um golpe para salvar uma determinada clientela. A falência do banco levaria a que os clientes perdessem todos os seus investimentos e esses clientes não eram certamente as figuras mais desconhecidas da sociedade política portuguesa. É este o receio recente dos oligarcas russos em relação à Banca cipriota.
O problema português não foi em nada semelhante ao problema dos EUA com a China que levaria à perda de milhares de milhões de investimentos chineses. Este aspeto é verdadeiramente uma das maiores causas do fiasco político-financeiro português dos últimos anos, resultando num aumento enorme do défice e no anúncio de pré-bancarrota por idiotas como o Sócratas. O BPN era um banco sem importância que deveria ter falido, tal como faliu o Lehman Brothers. A impossibilidade de falência pôr-se-ia se houvessem jogos escondidos como fosse o caso do banco funcionar como banco de investimentos-sombra para a Segurança Social ou como instrumento de fuga e lavagem de capitais para personagens do conhecimento público, o que foi desmentido pelo ministro das Finanças. A História revelará a razão da precipitada ajuda de Sócrates ao banco português que possuía uma quota mínima no mercado rondando os 2%. Quantos políticos para além de Duarte Lima, Cavaco Silva, Armando Vara e Dias Loureiro tiveram negócios com o BPN que desenvolvia uma estratégia de criminalidade organizada? O que é que foi posto a salvo à custa dos contribuintes portugueses? Se a injeção de capital serviu para recuperar os dinheiros em risco da Segurança Social ou de outra instituição pública, então o contribuinte pagá-lo-á duas vezes, a segunda sob a forma de dívida com juros, uma vez que o capital injetado proveio da Troika e o inicial se evaporou ou foi saindo do país para agências de investimento americanas com sede em offshores, onde foi dar a longa volta habitual até desaparecer a origem do capital em circulação.
A Troika adiantou o pagamento do desfalque, os balanços equilibraram-se apressadamente e o banco foi vendido ao desbarato, pondo fim a uma gestão ruinosa e fraudulenta de todos os envolvidos. O assunto foi varrido para debaixo do tapete das instituições políticas. O relatório final da comissão parlamentar de inquérito ao BPN passou com a aprovação e a abstenção de todos os partidos com a exceção do Bloco de Esquerda. O admirável mundo português tranquilizou-se.
A ajuda de cerca de 4,2 mil milhões de euros dos 12 mil emprestados pela Troika desapareceu, os gestores foram presos e alguns ilibados de culpa. Interesses económicos sobrepuseram-se de novo aos interesses da democracia. Devido à centralização do aparelho estatal as decisões foram tomadas por muito poucos responsáveis no topo da hierarquia política e foram apagadas do quadro das asneiras. Business as usual? Certamente! O contribuinte vai pagar biliões de euros nos próximos vinte anos sem nunca lhe explicarem a razão da dívida feita à sua revelia. O povo português foi alvo de banditismo institucional e a justiça não agiu com a celeridade necessária. Portugal deixou de valer a pena para investidores honestos nacionais e internacionais. Lá continuam a ir cantando e rindo, aparvalhados.

21/05/2013

Fernando Pessoa sobre o "António das botas"

“Inteligente sem maleabilidade, religioso sem espiritualidade, ascético sem misticismo, este homem é de facto um produto de uma fusão de estreitezas. A alma campestre sórdida do camponês de Santa Comba se alargou em pequenez pela educação do seminário, por todo o inumanismo livresco de Coimbra, pela especialização rígida do seu destino desejado de professor de Finanças. É um materialista católico (há muitos), um ateu nato que respeita a Virgem.”
Toda a semelhança com a figura do "Aníbal de Boliqueime" será pura coincidência.

20/05/2013

A alternativa para o conflito geracional é federalista

O Federalismo cooperativo tenta reduzir o mais possível as diferenças entre os Estados, proporcionando níveis de vida iguais de maneira a evitar as divergências regionais como as que existem em Portugal onde ainda se encontram populações rurais a viver sem estruturas básicas essenciais no séc. XXI. Quando a ida ao médico se faz de táxi, perdendo-se um dia de trabalho, não se pode falar “em melhor serviço de saúde do Mundo” como uma médica afirmava numa manifestação. A isso juntam-se as falhas de comunicação pela rádio, pela televisão, pela internet, as falhas frequentes de eletricidade, a falta de boas estradas regionais, a falta de correios, a falta de abastecimentos básicos a falta de estruturas básicas como uma ETAR. A igualdade das condições de vida num país é essencial na luta contra a desertificação. Só nesse ponto se deve defender o unitarismo: Um país que seja unitário nas condições e nível de vida dos seus habitantes.  Deste modo, pode-se ter um Estado socialmente unitário, funcionando politicamente descentralizado. No mundo tecnológico atual e num país cujos rendimentos provêm essencialmente da prestação de serviços, a equidade do nível de vida em todo o território é essencial ao desenvolvimento, à mobilidade e à flexibilidade dos habitantes na busca de novos empreendimentos e na consequente criação de lugares de trabalho. Pode uma empresa informatizada funcionar numa região onde a internet falha várias vezes ao dia e uma chuvada mais forte pode cortar a eletricidade durante horas? Falham as caixas registadoras e depois pedem-se faturas e atacam-se os consumidores com ameaças pidescas? O cidadão não é obrigado a recuar na sua inteligência quando a governação é estúpida. Se a governação é incapaz de governar Portugal, é necessário criar estados portugueses mais pequenos e governáveis, garantindo a soberania nacional.