Estas
figuras portuguesas foram pensadores liberais que procuraram adaptar a ideia do
Federalismo internacional a uma reforma administrativa necessária ao país e
depois alargá-la ao modelo imperial colonialista português.
A
teoria mais aceite e partilhada era a de Pierre-Joseph Proudhon, uma linha
anárquica, demasiado idealista, logo politicamente pouco aceite num país
hierárquico e clerical como Portugal. A verdadeira essência política do
Federalismo terá escapado aos simpatizantes portugueses de Proudhon.
Escapou-lhes também o facto de esta utopia pressupor um cidadão incapaz de
erro, quando ele é por natureza um predador de si próprio, ao excluir-se do
conceito social normalizado.
Faltava
ao Império Português a coesão territorial de uma América ou de um Brasil e
faltava a coesão da nação para assumir uma homogeneidade de princípios com uma
responsabilidade política comum, necessária ao sistema federalista.
Tal
como hoje, a população indefesa preocupou-se antes em matar a fome e salvar os
filhos de uma miséria anunciada. Ter trabalho necessário à sobrevivência e uma
paz duradoura era mais importante do que os discursos sobre desenvolvimento e
progresso debatidos nas Conferências do Casino por intelectuais da época como
Adolfo Coelho, Antero de Quental, Eça de Queirós, Oliveira Martins, Manuel
Arriaga ou Teófilo Braga.
O
povo aceitou acriticamente as promessas da nomenclatura cultural e militar
apostada em instituir um regime paternalista e resumiu-se à sua constante
precariedade. A política era-lhe ditada pelo trabalho e a paz pela religião. A
cultura ficara entregue à tradição e exilou-se no realismo literário da geração
de 70 (os mesmos Antero de Quental, Eça de Queiroz, Oliveira Martins o outros),
cujas discussões não chegavam ao povo analfabeto e acabaram oficialmente por
ser proibidas. Os onze intelectuais intervenientes deram-se como “Os Vencidos
da Vida”. Foi a primeira geração reformadora a ser mandada “às favas” em bloco
por um regime político. Discute-se a “Arte Social” com o povo a morrer
de fome e com as elites militares e económicas a disputar as cadeiras do poder.
No fim restaram um sucessório de ditaduras que se reflectem no ultraliberalismo
parasitário do séc. XXI.
Hoje
sabemos que entre os demitidos da política estavam figuras brilhantes não só da
política mas também da historiografia e da literatura. Talvez resida aí e no
défice cultural de séculos a falta de auto-estima das gerações que se seguiram. O
povo cansou-se de pensar e adormeceu culturalmente.