O Federalismo de J. F. Henriques Nogueira


No meio da confusão constante que reinava na Monarquia Constitucional houve uma personalidade que defendeu a instauração de uma república federalista e municipalista de carácter cooperativista: o jornalista e publicista José Félix Henriques Nogueira (1825-1858) que ficou como um dos pais do socialismo em Portugal e defensor do Federalismo Ibérico, uma ideia avançada para a época e tida como traidora à pátria, devido ao latente ódio aos espanhóis. As suas teorias foram mais tarde apoiadas por Teófilo Braga como complemento para as ideias defensoras do positivismo ou seja do lado prático e útil da vida. No entanto, o iberismo desenvolvido em Portugal originou curiosos pensamentos políticos. Teófilo Braga estabeleceu um plano concreto para uma Federação Ibérica no qual a Espanha deveria aceitar condições importantes: organizar-se como República, dividir-se em territórios autónomos formando uma federação, admitir Portugal na dita federação e estabelecer em Lisboa a capital da Federação Ibérica. Isto só que se podia incluir num projeto utópico. Por isso ficamos pela organização do lado português enquanto se espera por um futurismo luso-espanhol situado no além.
No seu livro “Estudos sobre a Reforma em Portugal” ou simplesmente “Reforma” , J. F. Henriques Nogueira defende (sic):
“A administração da Justiça seja imparcial, rápida e gratuita;
A despesa pública seja inferior à receita;
Se prescrevesse o ruinoso sistema das dívidas e que a aplicação dos rendimentos de Estado fosse inteiramente ilustrada e filantrópica;
A rede tributária que ameaça de estancar o país ficasse reduzida a um só imposto progressivo sobre a renda, cobrado sem despesas e realizado sem ágio;
Os capitais pela barateza do juro auxiliassem a produção em lugar de absorverem a maior e melhor parte dos lucros;
…Que o trabalho das mulheres fosse melhor retribuído;
A agricultura, a indústria fabril e o comércio recebessem do Estado uma desvelada proteção como fontes principais da riqueza;
Que a comunicação do pensamento não achasse obstáculos e que o correio fosse inteiramente gratuito …;
…O Estado protegesse o talento abandonado que a falta de cultura não deixa medrar …;
Os interesses da localidade fossem atendidos primeiro que tudo…;
Portugal, povo pequeno e oprimido, mas conscio e zeloso da sua dignidade procurasse na FEDERAÇÃO com os outros povos peninsulares a força, a importância e a verdadeira independência que lhe falta na sua tão escarnecida nacionalidade.”

O texto do autor da “Reforma” dá a entender, nas suas propostas, que na Monarquia Constitucional:
-        Não existia uma Justiça funcional.
-        O Estado funcionava com défices enormes.
-        Os negócios de Estado não eram transparentes.
-        A rede tributária estava desajustada da realidade nacional.
-        O capital em vez de ser encaminhado para a produção desaparecia por outros canais.
-        O trabalho das mulheres era mal pago.
-        O Estado não defendia os interesses do sector agrário, industrial e comercial, logo a principal riqueza económica.
-        Não havia liberdade de expressão.
-        Não havia apoio à cultura e à formação.
-        A interioridade estava ao abandono.

Atendendo à data de edição (1851) do livro pode perguntar-se o que andou a inteligência política deste país a fazer nos últimos 160 anos que não fosse procurar instaurar um regime timocrático - um espaço para uns senhores com propriedades e dinheiro, diploma ou título estarem à vontade para explorar a nação.
Os filhos dos pobres, humilhados pela pobreza, começaram a trabalhar arduamente para fazer face às privações ao mesmo tempo que desenvolveram a ambição e a avareza. A avareza vem da necessidade de manter o pouco que conseguem e de não estarem preparados para a partilha social. Pelo contrário, tentam alcançar o que pertence aos outros. Como consequência, a divisão social acentuou-se.
O espaço entre J. F. Henriques Nogueira e a 1ª República foi de descalabro sociopolítico, como se pode deduzir.
Outras tentativas de encontrar um modelo próprio ou pelo menos um modelo adaptado à realidade da época não resultaram. Os modelos aproximados do Federalismo esbarravam no problema do Estado colonial e da casta político-militar.

Sem comentários:

Enviar um comentário