A República Portuguesa é um estratagema unionista

A República apareceu já contagiada pelas práticas da Monarquia constitucional, teve o remédio para se curar, mas os sucessivos governos preferiram não o fazer. Em vez disso abandonaram a população ao tal destino fatalista apregoado pelos cristãos católicos. O mal dos pobres é porém o bem dos eleitos que para o serem lhes fazem promessas de remissão desses males. A economia ficou entregue a um oligopólio e os latifundiários passaram a viver em Lisboa, alguns ocupando cargos políticos. A casta política e aristocrata continuava entregue aos prazeres e modernismos da cidade e a uma pretensa atividade democrática que os escritores descreveram em revistas e gazetas satíricas da época como “p…. e vinho verde”. Na província a população era explorada para manter esta gente no ócio da cidade e no desempenho dos cargos da nação desmembrada. O rei exilou-se para Inglaterra, levando a fortuna própria. A aristocracia falida vendeu parte dos títulos nobiliários aos novo-ricos que lhes compravam as mansões. O lacaio monárquico passou a ser o zeloso secretário republicano. A nobreza recolheu-se nos palacetes esperando por melhores dias. O imperativo da burguesia rica por herança limitou-se ao trabalhar tanto quanto o necessário, mas dentro desse necessário, o menos possível. Novas ideias, a invenção e a inovação apareceram esporadicamente porque não existia a estabilidade necessária ao empreendimento. Quando os empreendimentos apareceram, do sector primário ao terciário, foi aplicada a exploração do trabalhador, devido não só à ganância dos patrões, mas também a chefias empresariais incompetentes e à falta de legislação de trabalho que se encontrava à mercê de gente mal formada e incapaz de controlar o arbítrio e o abuso. Pelo meio surgiram os intermediários, os agiotas e os oportunistas. O Estado resumiu-se a acumular privilégios para os seus membros e a proteger a sua clientela. Foi a hora das milícias populares, dos assassínios políticos, do sem eira nem beira, que acabou nas ditaduras militares e civis. O país empobreceu com o fascínio republicano indisciplinado. A época assemelhou-se ao PREC (Período Revolucionário em Curso) e ao neoliberalismo na sua essência: muita exaltação e pouco siso. No fim muita gente foi simplesmente roubada. Em 2014 o descalabro contínua com o agravamento de se ter um PR incompetente que não reconhece a sua responsabilidade social nem os sinais do tempo que a nação atravessa. A República demente espera sentada. Lembra-se do passado remoto e esquece a actualidade.
Anteriormente o discurso político era parco, as ideologias eram confusas por serem importadas e no país poucos existiram que ao pensarem por si não fossem proibidos e detidos.
No limite, as ideias da ditadura do Estado Novo puseram fim à procura de um modelo político próprio de progresso democrático proibindo qualquer discussão ou diálogo.
Nessa passagem para o Estado Novo a classe que governava o País era uma amálgama de ambiciosos sem escrúpulos, gozando uma boa existência na cidade, entregues à vigarice especulativa e organizada num sistema de tráfico de influências, corrupção e de defesa da criminalidade política levada a cabo pelos seus membros. Homens inteligentes puseram-se em “bicos de pés” para atingirem uns poucos momentos de fama e para caírem na boa graça dos superiores e mostravam a sua fraqueza em discursos e conferências patéticas de exaltação ao regime, recheadas de patriotismo clerical. Aqueles que na fachada pareciam ser honestos e íntegros eram nos bastidores grupos de gente soberba, cultivando o servilismo hipócrita. Em postura arrogante e mesquinha e movidos pela inveja, buscavam a riqueza fácil e rápida.
O povo era considerado, ao tempo, como qualquer coisa desprezível e doentia como aliás acontecera na monarquia em que o rei D. Carlos chegou a referir-se à população como a parvónia, a piolheira ou a choldra.
A ideia de um estado federado defendida por várias individualidades da Monarquia Constitucional foi definitivamente posta de lado com a aprovação da Constituição de 1933. Esta ideia era demasiado democrática para uma sociedade considerada ordinária pela elite político-económica. Mais do que isso o Federalismo obrigava a uma mudança de mentalidade de toda a população. A Constituição de 1933 enterrou a ideia e com ela enterrou a própria democracia.
O pensamento universal português que ainda hoje se gaba de ter descoberto o Mundo, desta vez não foi além do horizonte geográfico visto com a perspetiva de um burro com viseiras. Em breve a nação não passaria de um monte de ferro velho areado diariamente. A Fábrica Sol e a União Fabril, símbolos da industrialização, forneciam a lixívia para um país imaculado onde a serenidade reinava à luz da vela e do candeeiro a petróleo, rezando o terço. O desenvolvimento científico não avançou. Praticamente não houve patentes. A Europa estava muito longe, estava lá fora. Dentro do país reinou a resignação de uma sociedade subserviente, acanhada e de baixa auto-estima. Os costumes continuaram a ser brandos, por medo à opressão e não por serem virtude duma nacionalidade com bons hábitos.
Hoje, no principio do séc. XXI, Portugal não melhorou. Continua ignorante, falido, convencido de uma infalibilidade em que só ele acredita. Continua sem recursos, subserviente e sobrevivendo à custa do dinheiro estrangeiro que no país é esbanjado por um sistema de tráfico de influências, corrupção e defesa da criminalidade política e económica.
Hoje os piolhosos de D. Carlos são os 25% da população que passa fome e vive abaixo do limiar da pobreza. A população que julga que por ter liberdade de voto tem algo a dizer, engrossa o grande exército da parvónia democrata e a choldra é toda uma auto-intitulada “classe política” que vive à conta da maioria que ainda trabalha, roubando-os e sustentando-os com promessas paradisíacas.

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