18/07/2016

Uma União Ibérica seria mais coesa do que a dividida UE

Lido no DN de 18.07.2016, referindo uma sondagem do Real Instituto Elcano.

Quase sete em cada 10 portugueses concorda que Portugal e Espanha "deviam avançar até alguma forma de união política Ibérica", segundo uma sondagem publicada pelo Real Instituto Elcano, em Madrid."...
O estudo conclui que os portugueses têm uma imagem muito positiva de Espanha, um país que consideram muito similar ao seu, apesar de metade deles verem "aspetos negativos na forte presença de empresas espanholas no seu país, relacionados com um certo receio de ser colonizados".
Três em cada quatro portugueses (74%) defendem que a Espanha deve ser o seu melhor aliado na União Europeia, mas só 62% está convencido que isso acontece realmente.
Uma percentagem expressiva de 83% de portugueses acreditam que Portugal e Espanha têm os mesmos interesses no que diz respeito à política internacional, mas apenas 63% afirma que os dois países atuam de forma coordenada nessa dimensão internacional.
O barómetro ...  revela que 74% dos portugueses elegem a Espanha como o parceiro europeu que devia ser o melhor aliado de Portugal, muito acima da percentagem em França (38%) e na Alemanha (24%)."
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Isto seria o reavivar do antigo projeto de uma Federação Ibérica que poderia ser, a longo prazo, benéfica para a Galiza, a Catalunha, o País Basco e a Andaluzia. A força  contra o "colonialismo" que a UE tenta exercer sobre os países do sul seria notória.

13/02/2016

Há 160 anos Portugal estava arruinado. J. F. Henriques Nogueira reconheceu-o. Hoje está um pouco melhor.

No meio da confusão constante que reinava na Monarquia Constitucional houve uma personalidade que defendeu a instauração de uma república federalista e municipalista de carácter cooperativista: o jornalista e publicista José Félix Henriques Nogueira (1825-1858) que ficou como um dos pais do socialismo em Portugal e defensor do Federalismo Ibérico, uma ideia avançada para a época e tida como traidora à pátria, devido ao latente ódio aos espanhóis. As suas teorias foram mais tarde apoiadas por Teófilo Braga como complemento para as ideias defensoras do positivismo ou seja do lado prático e útil da vida. No entanto, o iberismo desenvolvido em Portugal originou curiosos pensamentos políticos. Teófilo Braga estabeleceu um plano concreto para uma Federação Ibérica no qual a Espanha deveria aceitar condições importantes: organizar-se como República, dividir-se em territórios autónomos formando uma federação, admitir Portugal na dita federação e estabelecer em Lisboa a capital da Federação Ibérica. Isto só se podia incluir num projeto utópico. Por isso ficamos pela organização do lado português enquanto se espera por um futurismo luso-espanhol situado no além.
No seu livro “Estudos sobre a Reforma em Portugal” ou simplesmente “Reforma” J. F. Henriques Nogueira defende (sic):
“A administração da Justiça seja imparcial, rápida e gratuita;
A despesa pública seja inferior à receita;
Se prescrevesse o ruinoso sistema das dívidas e que a aplicação dos rendimentos de Estado fosse inteiramente ilustrada e filantrópica;
A rede tributária que ameaça de estancar o país ficasse reduzida a um só imposto progressivo sobre a renda, cobrado sem despesas e realizado sem ágio;
Os capitais pela barateza do juro auxiliassem a produção em lugar de absorverem a maior e melhor parte dos lucros;
…Que o trabalho das mulheres fosse melhor retribuído;
A agricultura, a indústria fabril e o comércio recebessem do Estado uma desvelada proteção como fontes principais da riqueza;
Que a comunicação do pensamento não achasse obstáculos e que o correio fosse inteiramente gratuito …;
…O Estado protegesse o talento abandonado que a falta de cultura não deixa medrar …;
Os interesses da localidade fossem atendidos primeiro que tudo…;
Portugal, povo pequeno e oprimido, mas conscio e zeloso da sua dignidade procurasse na FEDERAÇÃO com os outros povos peninsulares a força, a importância e a verdadeira independência que lhe falta na sua tão escarnecida nacionalidade.”

O texto do autor da “Reforma” dá a entender, nas suas propostas, que na Monarquia Constitucional:
-        Não existia uma Justiça funcional.
-        O Estado funcionava com défices enormes.
-        Os negócios de Estado não eram transparentes.
-        A rede tributária estava desajustada da realidade nacional.
-        O capital em vez de ser encaminhado para a produção desaparecia por outros canais.
-        O trabalho das mulheres era mal pago.
-       O Estado não defendia os interesses do sector agrário, industrial e comercial, logo a principal riqueza económica.
-        Não havia liberdade de expressão.
-        Não havia apoio à cultura e à formação.
-        A interioridade estava ao abandono.

Atendendo à data de edição (1851) do livro pode perguntar-se o que andou a inteligência política deste país a fazer nos últimos 160 anos que não fosse procurar instaurar um regime timocrático - um espaço para uns senhores com propriedades e dinheiro, diploma ou título estarem à vontade para explorar a nação.
Os filhos dos pobres, humilhados pela pobreza, começaram a trabalhar arduamente para fazer face às privações ao mesmo tempo que desenvolveram a ambição e a avareza. A avareza vem da necessidade de manter o pouco que conseguem e de não estarem preparados para a partilha social. Pelo contrário, tentam alcançar o que pertence aos outros. Como consequência, a divisão social acentuou-se.
O espaço entre J. F. Henriques Nogueira e a 1ª República foi de descalabro sociopolítico, como se pode deduzir.
Outras tentativas de encontrar um modelo próprio ou pelo menos um modelo adaptado à realidade da época não resultaram. Os modelos aproximados do Federalismo esbarravam no problema do Estado colonial e da casta político-militar.