01/11/2013

Os federalistas portugueses

Os primeiros defensores portugueses das teorias federalistas apareceram no séc. XIX e no princípio do séc. XX, influenciados pelas ideias do liberalismo e consequentemente incluíram-se na Maçonaria e no Partido Republicano Português. A tendência foi a de seguirem alguns modelos que pudessem ser adaptados à realidade nacional. Podemos mencionar, entre outros nomes: José Pinto de Macedo, o Augusto Alves da Veiga, José Félix Henriques Nogueira, João Bonança, Henrique Trindade Coelho, Sebastião de Magalhães Lima, fundador do jornal “O Século” e Felizardo Lima, fundador do jornal “República Federal”. Na sequência da sua acção através do jornal “O Radical”, Felizardo Lima propôs um novo programa federalista para o Partido Republicano onde se recuperava a ideia federalista e municipalista. Joaquim Pedro de Oliveira Martins, propondo a laicização crescente da sociedade, edita “Do Princípio Federativo”, uma colectânea de textos publicados no “Jornal de Comércio” seguindo, tal como fez Sampaio Bruno, o exemplo de “O Federalista” americano.
Estas figuras portuguesas foram pensadores liberais que procuraram adaptar a ideia do Federalismo internacional a uma reforma administrativa necessária ao país e depois alargá-la ao modelo imperial colonialista português.
A teoria mais aceite e partilhada era a de Pierre-Joseph Proudhon, uma linha anárquica, demasiado idealista, logo politicamente pouco aceite num país hierárquico e clerical como Portugal. A verdadeira essência política do Federalismo terá escapado aos simpatizantes portugueses de Proudhon. Escapou-lhes também o facto de esta utopia pressupor um cidadão incapaz de erro, quando ele é por natureza um predador de si próprio, ao excluir-se do conceito social normalizado.
Faltava ao Império Português a coesão territorial de uma América ou de um Brasil e faltava a coesão da nação para assumir uma homogeneidade de princípios com uma responsabilidade política comum, necessária ao sistema federalista.
Tal como hoje, a população indefesa preocupou-se antes em matar a fome e salvar os filhos de uma miséria anunciada. Ter trabalho necessário à sobrevivência e uma paz duradoura era mais importante do que os discursos sobre desenvolvimento e progresso debatidos nas Conferências do Casino por intelectuais da época como Adolfo Coelho, Antero de Quental, Eça de Queirós, Oliveira Martins, Manuel Arriaga ou Teófilo Braga.
O povo aceitou acriticamente as promessas da nomenclatura cultural e militar apostada em instituir um regime paternalista e resumiu-se à sua constante precariedade. A política era-lhe ditada pelo trabalho e a paz pela religião. A cultura ficara entregue à tradição e exilou-se no realismo literário da geração de 70 (os mesmos Antero de Quental, Eça de Queiroz, Oliveira Martins o outros), cujas discussões não chegavam ao povo analfabeto e acabaram oficialmente por ser proibidas. Os onze intelectuais intervenientes deram-se como “Os Vencidos da Vida”. Foi a primeira geração reformadora a ser mandada “às favas” em bloco por um regime político. Discute-se a “Arte Social” com o povo a morrer de fome e com as elites militares e económicas a disputar as cadeiras do poder. No fim restaram um sucessório de ditaduras que se reflectem no ultraliberalismo parasitário do séc. XXI.
Hoje sabemos que entre os demitidos da política estavam figuras brilhantes não só da política mas também da historiografia e da literatura. Talvez resida aí e no défice cultural de séculos a falta de auto-estima das gerações que se seguiram. O povo cansou-se de pensar e adormeceu culturalmente.

Sem comentários:

Enviar um comentário